Jornalismo "adiplomado"

março 30, 2011 Helô Righetto 10 Comentários

Há tempos que ensaio escrever esse post mas bate uma preguiça gigantesca, porque sei que o assunto é polêmico e há a possibilidade de rolar enchições de saco. Mas, como eu tenho tido cada vez mais contato com jornalistas - diplomados - lá no Brasil e por isso sentindo uma certa contradição no assunto, lá vai meu post.

Todo mundo aqui sabe que eu não me formei em jornalismo. Sou "desenhista industrial" e coloco entre aspas porque a minha querida primeira profissão não é regulamentada. Até o nome da curso, Desenho Industrial, é mega antiquado e deveria urgentemente ser alterado para Design (Produto ou Gráfico ou o que for), afinal não há palavra em português que represente perfeitamente o que engloba essa profissão.

Mas chega, não queria falar da minha primeira profissão, mas da segunda, o jornalismo. Pois é, eu entendo mesmo (mesmo!) a insatisfação da classe (que termo mais revolução industrial hein?), que estudou por anos e passou perrengues infernais até conseguir trabalho. Mas também entendo que pessoas especializadas em um setor específico (oi?) tem muito para contribuir.

Eu realmente não compreendo reclamações do tipo "ah, mas agora meu diploma não vale nada?". Como assim? Você realmente acha que seu conhecimento do assunto será desdenhado por causa disso? Eu não acho não! Você tem é uma bela de uma vantagem, aproveite!

Além disso, pessoas especializadas - em design, culinária, música, arte, entre tantos outros - tem contribuído com o jornalismo há anos e merecem sim o título de jornalista.

Até porque, os próprios bachareis em jornalismo cedo ou tarde acabam especializando-se em algo.

REPITO: eu acredito na importância do curso, e sinto na pele a falta que ele faz (por isso estou correndo atrás da faculdade perdida através de cursos e uma possível pós), mas da mesma maneira que um economista pode virar designer, um designer também pode virar jornalista.

Ah, mas falei falei e não contei das contradições né? A melhor delas: uma das editoras com que trabalho divulgou, em sua "carta do editor" - que vai na primeira página da revista - sua revolta quando essa história de não precisar o diploma foi aprovada. Engraçado que na mesma edição estava lá a minha matéria, toda bonitona. Preciso explicar?

Aliás essa coisa toda de "estudou isso então é isso que você tem que fazer pro resto da sua vida" é um pouco ultrapassada. Eu mesma só fui abrir a cabeça há pouco tempo atrás, e minha mudança pra Londres contribuiu muito pra isso. Aqui, você usa a universidade pra flertar com vários assuntos, e é na sua caminhada profissional que você vai acabar descobrindo o que fazer. Já conheci muita gente formada em marketing que trabalha como jornalista, ou formada em moda e que atuam  em administração.

Eu costumava ficar irritada quando via uma turma autodidata falar que era designer, e me arrependo muito de ter sido tão cabecinha fechada. A gente muda, a gente aprende, podemos fazer várias coisas fora do percurso planejado quando a gente tinha 17 anos.

Tudo isso porque eu não quero mais ficar envergonhada pra falar que sou jornalista de design. Porque eu sou!

(mais uma foto não relacionada com o post, que estava solta aqui no meu pc)

10 comentários:

  1. Boa noite Heloísa, é a primeira vez que comento aqui mas volta e meia passo por cá! Principalmente quando o assunto é este mesmo, jornalismo Vs Design. É eu estou no outro lado da moeda: licenciei-me em Comunicação e fiz mestrado em Jornalismo mas tenho um grande interesse na àrea do design, apesar de nunca ter estudado nada parecido.
    Com este post fiquei mais motivado e entendi (mais uma vez) que não podemos/devemos ficar limitados ao que escolhemos estudar, mas sim ir traçando o nosso próprio percurso.
    Afinal é como a Heloísa diz: podemos fazer coisas diferentes do que aquelas planeadas quando tínhamos 17 anos.

    E se quer a minha opinião, a Heloísa não fica a dever nada a alguns jornalistas!...

    :)

    ResponderExcluir
  2. Eu fiz jornalismo e acho que meu curso foi um tantinho desnecessario. Quer dizer, pro lado pessoal foi oteeeemo, mas se eu pudesse voltar atras, talvez fizesse outra faculdade e me pouparia de tanta teoria da comunicaçao. Acho que pra um jornalista, a vivência da faculdade (qualquer uma) é o mais importante.

    ResponderExcluir
  3. Você já sabe o que eu penso a respeito, mas prefiro repetir pra que os outros também leiam a opinião de uma jornalista.
    Me formei em jornalismo e acho que mesmo sem a validade do diploma, o mercado ainda prefere um profissional que tenha cursado a faculdade. Mas também é
    capaz de absorver outros profissionais especialistas de outras áreas para escreverem sobre seus nichos.
    Acredito que, diferente da profissão de médico, por exemplo, pra ser jornalista é preciso reunir: boa escrita, curiosidade, senso crítico e apurado pra identificar ângulos diferentes e interessantes, além de ética pra ouvir os dois lados da história.
    O que se aprende na faculdade se aprende na prática da profissão. E não é o pedaço de papel que te dá garantia de sucesso. Acho que diferente da faculdade de medicina, a maioria dos cursos superiores reúne o conhecimento estruturado e teorizado que muitos, como você Lô, aprendem espontaneamente ou que já trazem como dom.
    Com ou sem diploma, sempre há espaço para bons profissionais.

    ResponderExcluir
  4. Obrigado pelo comment!
    Respondi lá também.

    ***

    ResponderExcluir
  5. Helo, se voce nao for jornalista de design, eu nao sei quem eh... e acho que pra falar bem de um assunto, voce tem que conhece-lo muito bem (nada melhor do que uma faculdade no assunto, nao???). Afinal, escrever bem eh uma arte que nao se aprende em faculdade nenhuma!

    ResponderExcluir
  6. Ana Amaral, do http://maedevenus.blogspot.com4:37 PM

    eu sou jornalista diplomada e acho que tem espaço para todo mundo.

    dou valor ao meu diploma, aprendi coisas bacanas na faculdade. técnicas de escrita mesmo. mas acho que um técnico de 2 anos de repente teria sido suficiente...

    vc está certa em ir buscar um curso. aprendizado nunca é demais. beijo

    ResponderExcluir
  7. Helo, acho que depois que a gente sai do Brasil a gente entende muito mais isso, pois as pessoas aqui nao necessariamente trabalham na area em que se formam, nao soh aqui, mas nos EUA vc ve muito disso tbem. Afinal de contas.... como que uma pessoa de 17-18 anos consegue decidir o que quer fazer pro resto da vida? O resto da vida, geralmente, eh um percurso muuuito gde...

    bjs

    ResponderExcluir
  8. Olá Heloísa!
    Meu nome é Luís Fernando Ribeiro. Sou jornalista e professor na área. Gostei muito do seu artigo, e concordo que o diploma é um diferencial, mas não é tudo. Tenho visto em sala de aula que muitos alunos estão no lugar errado. Poderiam ter qualquer outra profissão, menos jornalismo.
    Hoje, vejo com clareza que este momento é fundamental para o futuro do jornalismo em nosso país.

    Penso, porém, que a PEC, que tenta reestabelecer de forma definitiva o diploma como fundamento para a prática da profissão jornalística é lícita e deve ser respeitada. Antes, é claro, o curso deve passar, urgentemente, por uma reforma séria em seu plano curricular.
    Por outro lado, tenho convicção que algumas pessoas têm habilidades suficientes para exercer essa profissão. Neste caso, devem ser criadas possibilidades para que este profissional conquiste o seu diploma, talvez um programa de proficiência.
    Abraço e parabéns pelo blogue!

    ResponderExcluir
  9. Olá Heloísa.
    Encontrei este texto por acaso e lembrei-me de vc, espero que goste!

    "Ninguém aprende a ser jornalista fazendo uma universidade. O jornalismo está no sangue. Já nasce com a pessoa. O instinto da comunicação. A busca da informação, do conhecimento. A ânsia de aprender e passar adiante da melhor maneira possível. Muitos nascem com o dom, mas acabam seguindo outras carreiras. Outros acabam cedendo. A universidade apenas ensina o caminho das pedras. Serve para lapidar e direcionar o profissional à área escolhida. O jornalismo de hoje já não mais como antigamente. Não existe mais o romantismo de outrora e o glamour que fazia do jornalismo uma profissão respeitada e conceituada. Hoje qualquer um é jornalista. Mesmo aqueles que não nasceram pra isso. Qualquer um escreve sobre qualquer coisa, em qualquer lugar e da forma que desejar. É a massificação da informação e a necessidade do imediatismo. Culpa da globalização? Da internet? Até pode ser. Agora, cabe ao bom jornalista saber decidir qual caminho seguir. Sei que, às vezes, não há muita opção e o bom jornalista, mesmo conhecedor das normas e da ética profissional, acaba abrindo mão dos ensinamentos básicos da profissão em detrimento da exigência do mercado. Não se pode criticar. Mas a verdade é que a globalização está aí. A internet está aí. Com seus prós e contras. É nossa obrigação saber usufruir dos prós e descartar os contras. Para que o verdadeiro jornalismo de caráter possa prevalecer sobre a ganância, a maldade e o simplório. Os maus profissionais estão aí, como em todas as profissões. E só me resta lamentar ao vê-los sucumbir à mediocridade."
    in Márcio Neves

    ResponderExcluir
  10. Ora essa, de nada!
    É engraçado como nos lembramos das pessoas mesmo só as conhecendo pela internet né?

    Bom resto de feriado :)

    ResponderExcluir

Deixe seu comentário! E caso faça uma pergunta, volte para ver a resposta