Leitura: Mulheres, Raça e Classe, Angela Davis

outubro 31, 2017 Helô Righetto 0 Comentários


Um dos mais emblemáticos livros sobre feminismo do século 20, Mulheres, Raça e Classe só ganhou tradução em português ano passo, depois de 35 anos de sua publicação. Ganhei um exemplar da minha irmã de ativismo quando nos encontramos em São Paulo em setembro.

Angela Davis dispensa apresentações, e o que me fez mais feliz ao ler esse clássico é que a leitura é compreensível. Desde que comecei as aulas do mestrado tenho admirado ainda mais as escritoras e escritores que conseguem colocar no papel história junto com estatísticas sem tornar o resultado algo que dá pra entender apenas se vc tem um doutorado.

Mulheres, Raça e Classe é focado no movimento feminista negro dos Estados Unidos, mostrando o quanto machismo e racismo estão entrelaçados. Há pouco tempo eu li um livro contemporâneo também sobre esse assunto, o Why I'm no Longer Talking to White People About Race, que é focado na Grã Bretanha. Em ambos dá pra fazer diversos paralelos com a realidade do Brasil, e concluir que não dá pra gente lutar por igualdade de gênero como algo único. Opressões estão conectadas, e esses livros focam na intersecção de gênero e raça.

Pra minha sorte, o Mulheres, Raça e Classe é também uma das leituras recomendadas do meu mestrado. Não está sendo fácil continuar a ler os livros que escolho, pois o material obrigatório para ler antes das aulas acaba ocupando todo meu tempo fora da universidade.

Estou tentando manter minha regra de ler o que eu quiser toda vez que estiver usando transporte público. Mas as vezes a cabeça já está em curto circuito o e o tempo no ônibus ou metrô acaba sendo utilizado pra não pensar em absolutamente nada.

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16 dias depois

outubro 27, 2017 Helô Righetto 0 Comentários


Poxa vida, ando novamente negligente com meu bloguinho querido. Nem havia me dado conta de que o último post foi publicado há mais de duas semanas. Quero escrever mais sobre o mestrado aqui, principalmente para poder ler os posts depois que eu terminar (algo que parece ainda tão distante) e poder comparar opiniões.

Mas está tudo bem. Tentando ajustar as idas para as aulas e outros compromissos acadêmicos com a vida social, corrida e aquele tempinho maravilhoso que a gente não faz absolutamente nada (isso anda meio escasso).

Algumas novidades: ganhei um prêmio com a Conexão Feminista e comecei a escrever pro site da revista da universidade (feita por alunos). Sobre o prêmio eu conto melhor depois que passar a cerimônia de premiação, que é apenas dia 18 de novembro. Sobre o site, você pode ler minha primeira coluna aqui (infelizmente o Brasil Observer não vai mais ser publicado, então obviamente não escrevo mais lá).

Volto logo!

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Mestrado em Londres: primeiras impressões

outubro 11, 2017 Helô Righetto 3 Comentários


E então que finalmente começaram as aulas do mestrado. Estava há tanto tempo me preparando pra isso que já estava se tornando uma coisa meio surreal, sabe? Parecia que não ia acontecer de verdade. Tinha o Kilimanjaro, tinha a ida pro Brasil e algumas outras viagens. O "depois do mestrado" parecia tão distante... mas cá estou eu, de fato fazendo um mestrado.

Claro que ainda é cedo pra dizer se é bacana ou não. Por enquanto está tudo indo bem. Tem sim bastante coisa pra ler, e tem sim um monte de textos complicados que não consigo entender. Mas o mais importante é que, por enquanto (e talvez mais pra frente eu perceba que falei isso cedo demais), estou achando tranquilo. Consigo ter um pouco de tempo livre, ao contrário do que esperava (e ao contrário do que a maioria das pessoas me falaram). Eu estava preparada pra não ter vida fora da universidade após o início das aulas. E apesar de realmente não poder fazer planos com antecedência (principalmente viajar), não estou achando muito diferente do ritmo da vida de freelancer.

Não sei como é no Brasil, mas aqui o mestrado é praticamente "autodidata". As (poucas) aulas são curtas, e é esperado que você corra atrás da informação e participe de palestras, grupos de pesquisa e estudo. Também não é esperado que você comece as aulas já sabendo o tema da dissertação. Aliás, é bem o contrário: na primeira semana as professoras nos falaram que começar o curso com uma ideia já formatada é prejudicial.

O meu curso tem cerca de 30 pessoas, sendo que apenas um homem. Mais da metade é composta por estrangeiros. Temos uma matéria obrigatória nesse "term" (que vai até dezembro) e outra opcional. A minha matéria opcional é por acaso a matéria obrigatória de um outro curso (Direitos Humanos), e não tem mais ninguém do meu curso que também escolheu essa. Ou seja, tenho duas turmas completamente diferentes.

No fim desse "term" terei que escrever um "essay" pra cada uma das matérias - então a coisa deve ficar mais estressante pro fim do ano.

Também me inscrevi em umas aulas de "academic language development", formuladas para alunos estrangeiros que querem se familiarizar com escrita acadêmica. E tenho usado bastante a biblioteca.

Um dos meu "medos" de voltar pra faculdade depois de tantos anos era ser a mais velha da turma. E isso se confirmou. Tem muito mais gente nos seus 20 e poucos, e que acabaram de se formar e mudar para Londres para fazer esse mestrado, do que a turma dos 30 e poucos (e menos ainda dos 30 e muitos). Mas o lado bom é a empolgação dessa mulherada novinha. E o tanto que elas sabem: já conhecem as autoras mais importantes do movimento feminista, estão envolvidas com causas, e com sede de aprender. Ainda não foram picadas pelo mosquito "estou de saco cheio de trabalhar e ganhar pouco e é isso que é a vida?", e as vezes nossa diferença de idade de 10, 15 anos, é apenas um detalhe. Adoro conversar com elas.

Bom, é isso. Por enquanto só molhei o pé na vida acadêmica. Mais updates em breve!

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Leitura: Cinco Esquinas, Mario Vargas Llosa

outubro 07, 2017 Helô Righetto 0 Comentários


Esse foi um dos livros que trouxe do Brasil (acho que metade do peso da minha mala na volta foi de livros), e como é relativamente curto resolvi ler dois dias antes de começar as aulas do mestrado (me bateu um desespero quando me dei conta de que não vou ler algo por escolha própria táo cedo). Eu peguei esse livro sem nem mesmo dar uma folheada, vi que era meio novo, do Mario Vargas Llosa, e comprei.

Ah, que decepção. Achei uma porcaria. O resumo da contra capa é péssimo e a tradução faz a história ficar ainda pior. Fraquíssimo. Não parei nas primeiras páginas justamente porque é Vargas Llosa, e como grande admiradora, achei que ficaria bom. Ainda bem que é curto e não tomou muito tempo.

Enfim, todo gênio tem seu dia de ordinário, não é mesmo?

O pior Vargas Llosa que já li #heloreads #cincoesquinas #mariovargasllosa

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Leitura: 4 3 2 1, Paul Auster

outubro 03, 2017 Helô Righetto 3 Comentários


Está bem óbvio que eu ando dando preferência para livros escritos por mulheres. Mas no começo desse ano o meu querido Paul Auster publicou uma nova obra depois de 7 anos de "sumiço", e eu comprei na hora, quando vi na livraria. Um livro imenso, de quase 900 páginas, que ficou me esperando alguns meses na estante.

Mas com a aproximação do início das aulas do mestrado e a viagem ao Brasil (ou seja, vôos longos), eu resolvi encarar o 4 3 2 1. Além disso, ele foi selecionado para o Booker Prize, e eu sempre gosto de ler um ou outro dos indicados.

Pra quem é das antigas aqui no blog, deve lembrar que eu já escrevi sobre alguns dos livros dele. Gostei de todos que li, e com esse não foi diferente. Não sei se era porque não lia nada do Paul Auster há tantos anos e estava com saudades do estilo dele, mas achei espetacular.

O livro tem esse nome porque são 4 histórias - ou melhor, 4 caminhos - sobre o mesmo personagem principal. Nós acompanhamos o nascimento, infância, adolescência e o começo da vida adulta de Archie Ferguson em quatro versões, com diferenças - as vezes sutis, as vezes brutais - em cada um dos quatro rumos diferentes.

Junto com as possibilidades de vida dele, acompanhamos também diversos acontecimentos da história dos Estados Unidos, e do seu envolvimento - ou não, depende de qual Archie - com tais acontecimentos.

Pra quem gosta de Paul Auster e já leu outros livros dele, leia esse o quanto antes. Mas pra quem não conhece o estilo do autor, recomendo começar por algum outro, um pouco mais curto, pra ver se você curte o estilo do autor. Frases longas, parágrafos imensos, descrição de coisas do dia a dia. Ah, como eu gosto do dia a dia transformado em história extraordinária!

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(Guest Post) Relato de pré natal e parto no NHS

outubro 02, 2017 Helô Righetto 0 Comentários


O NHS é o sistema de saúde pública aqui no Reino Unido. Como qualquer instituição - pública ou privada - o NHS tem lá seus problemas. E desde que cheguei aqui percebo que o sistema vive em crise. Faltam recursos, faltam profissionais, e sobram políticos utilizando o NHS para conseguirem votos. O NHS foi inclusive protagonista na campanha (mentirosa) a favor do Brexit, e um dos grandes medos da população é que um dia ele seja privatizado.

Para brasileiros privilegiados que vem morar no Reino Unido (ou seja, acostumados com plano de saúde no Brasil), pode rolar um estranhamento. A gente não pode fazer o exame que quer, quando quer. É preciso passar pelo crivo do GP (o médico de família), e a possibilidade de você conseguir fazer um exame ou ser indicado para um especialista é baixa (o papanicolau, por exemplo, é feito a cada 3 anos). O GP tenta resolver seu problema, e há inclusive a lenda do paracetamol: há quem diga que não adianta chorar as pitangas pro médico. Você vai sair da consulta com a recomendação de tomar paracetamol.

Você certamente vai ouvir histórias horrendas sobre o atendimento do NHS. Vai ouvir que é preciso exagerar sintomas, contar umas mentirinhas, insistir até conseguir fazer um certo exame ou ver um especialista. Claro que é uma loteria, seu GP pode ser muito melhor do que o da sua amiga. Aqui em casa a gente tem uma experiência ótima. O Martin inclusive já conseguiu ver especialista (dermatologista) e eu fiz exame de sangue duas vezes, sem precisar exagerar sintomas.

Mas enfim, estou fugindo do assunto principal desse post, que é contar como é o procedimento de pré natal e parto no NHS. É completamente diferente de um atendimento particular no Brasil. Tenho várias amigas que tiveram seus bebês aqui, e pedi pra uma delas, a Renata, contar como foi a experiência dela.

Queria fazer apenas um adendo ao relato da Renata: pode parecer bobagem, mas acho importante a gente lembrar que serviço público não é gratuito. Óbvio que é maravilhoso não precisar pagar um plano particular para ter acesso a bons médicos, exames e hospitais. Mas, novamente, não temos esse serviço de graça! Imposto é pra isso, certo?

Bom, segue então o relato de parto nop NHS da Renata. Se alguém tiver alguma pergunta, deixe nos comentários que eu peço pra ela responder.

**********

Descobri que estava grávida depois de fazer um exame de farmácia. Como não tinha menstruação regular, não saberia dizer a minha data estimada para o parto e por isso resolvi fazer o primeiro ultrasom particular. Me cadastrei no hospital perto da minha casa na época (West Middlesex) e avisei meu GP (médico geral). Aqui no NHS- National Health Service - o sistema público de saúde, você só está oficialmente grávida após a 12a. semana, quando uma carta chega na sua casa te convidando para a primeira consulta com a midwife, as parteiras, e o primeiro ultrasom. Vale ressaltar que você é atendida por uma equipe de midwives e que não necessariamente será com a mesma (no meu caso sempre foi diferente). E essa equipe é até o pré parto. Para o parto e o pós é outra equipe.

Entrei em contato com um amigo da minha irmã (ela é médica otorrino lá no Brasil e um dos melhores amigos dela da faculdade estava estudando em Londres na época) que é obstetra e acabei tendo acompanhamento dele ao longo da minha gravidez inteira. Então antes de fazer o primeiro ultrasom no NHS, fiz com o médico no hospital que ele fez o master dele, que é referência em estudo fetal e síndrome de down na Inglaterra.

Consultas

Com 12 semanas tive minha primeira consulta com a midwife e com 13 meu primeiro ultrasom. Nesse primeiro ultra são tiradas as medidas, é dada a data de nascimento aproximada e se você decidir pode saber se o bebê tem síndrome de down.

O próximo e último ultrasom pelo NHS feito com 20 semanas chama anomaly scan, para checar qualquer anomalia estrutural (adendo: o aborto é permitido na Inglaterra até a semana 24, no próprio NHS). Para algumas mulheres é oferecido mais de dois ultras, mas depende da gravidez e condição de saúde da grávida. É nesse scan também que você pode saber se terá menina ou menino. Aqui ainda é muito comum não ficar sabendo e mesmo se você escolhe saber, tinha um aviso no meu hospital de que não é 100% certeza.

Além das duas ultrassonografias, o acompanhamento durante toda a gravidez é feito pelas midwives e o seu médico GP. Então se você teve uma consulta com a midwife com 16 semanas, a próxima, de 25 semanas, será com o médico. O calendário de consultas é nas seguintes semanas: 12, 16, 20 (ultrasom), 25, 28, 31, 34, 36, 38 e 40 (tem também com 41 e 42). A partir da 28a. semana eles dão a vacina da coqueluche. Vale lembrar que aqui você praticamente não tem opção de cesária, a não ser que seja uma gravidez de risco, se o bebê ou a mãe estão em perigo. Por isso eles esperam até a 42a. semana de gravidez para induzir o parto, e ainda assim tentar naturalmente.

Nas consultas sempre é feito teste de urina, medem sua barriga, discutem plano de parto e são muito breves. Se você não tem nenhum questionamento, não tem porque demorar. E em todas as consultas você leva sua pastinha de grávida, com seu número de hospital, informações sobre o parto, resultados de ultrasom, etc.

Foi na minha consulta de 31 semanas com a médica no GP que ela achou que a minha barriga estava pequena (pela medição deles, era uma barriga de 28 semanas e não 31). Na mesma hora ela ligou para o hospital e no dia seguinte fui ao ambulatório medir minha barriga, escutar o coração do Felipe por mais de 1h (eles medem os batimentos para ter certeza de que está tudo bem) e assim foram três dias na semana, por duas semanas. Eu ainda fiz mais um ultrasom, onde a ultrassonografista perguntou se eu me exercitava, eu disse que sim, inclusive tinha corrido uma meia maratona grávida - sem saber - e ela explicou que barriga de "atleta" sempre é menorzinha.

Como falei lá no começo, eu tive acompanhamento de um médico brasileiro ao longo da minha gravidez inteira - fiz ultrasom até 38 semanas. E vou confessar que toda vez que tinha um ultrasom marcado com ele eu ficava mais em paz de saber que tudo estava caminhando bem. Portanto se eu não tivesse tido esse acompanhamento, com certeza teria feito um (ou dois!) ultrasom particular.

Com 37 semanas mudamos para o outro lado da cidade e consequentemente de hospital e de equipe de midwifes. Avisei meu antigo hospital, fui conhecer meu novo quando tive consulta (alguns hospitais disponibilizam tour para conhecer a maternidade, mas não fui) e me cadastrei no GP. No meu novo bairro, as consultas eram feitas sempre com as midwifes - e não com o GP. Tive 2 consultas, uma com 38 semanas e outra com 39 (minha barriga pequena ainda era uma preocupação). Lembro que era uma quarta-feira e ao sair dessa consulta falei para a midwife: até a semana que vem. E ela: talvez não, né? Não fui mesmo. Felipe nasceu na sexta-feira, com 39 semanas e 2 dias.

Parto

Na manhã de sexta feira estava me sentindo diferente, não sei explicar...tinha um incômodo, mas nada preocupante. Fiz um bolo de limão, já que a minha família chegaria no sábado, descansei um pouco e ia fazer meu almoço. Levantei do sofá e minha bolsa estourou às 12:30. Liguei para o Vini, meu marido, e ele não atendeu. Veio uma mensagem: é urgente? Sim. Falei que estava tudo bem e que ia ligar para a midwife. Ela me disse que eu precisava ir para o hospital para eles me avaliarem, nada correndo, nas próximas 24h, e para eu guardar todos os absorventes para eles analisarem o líquido.

Combinei com o Vini de nos encontrarmos no hospital, já que ele ia do trabalho e não compensava vir até em casa. Chamei um uber, peguei minha mala do hospital e minha pastinha com todas as informações e fui. Subimos para a maternidade e fui atendida no Oasis Ward.

Aqui vale uma pausa para explicar que a maioria dos hospitais (não sei se em todo Reino Unido, mas acredito que sim) tem dois tipos de maternidade: a tradicional, onde se eu escolher ter anestesia eu posso ou se precisar de algum cuidado especial, e o oasis, que parece um mini spa, com bolas de pilates, banheiras, algo mais natural, sem intervenção médica.

Quando fui atentidida pela midwife no Oasis achei estranho, afinal, eu deixei bem claro no meu plano de parto de que queria anestesia, ter uma epidural. Ela ouviu o coração do Felipe, o meu, nem viu se eu estava com alguma dilatação e falou: olha ainda esta muito no início do trabalho de parto. É melhor vocês voltarem para casa, pois aqui não tem onde ficar. Vini falou que estávamos de taxi, se não era melhor esperar lá. Ela se desculpou e disse que podíamos ficar lá embaixo, na recepção. Mas antes perguntou se não queríamos conhecer o Oasis. Eu disse que não, que queria ter na maternidade pois queria anestesia. Mas por que você quer anestesia? Você é capaz de fazer sem anestesia. E só saberá se passar por isso. É prefiro não saber. Isso eram umas 15h.

Ainda ficamos em um café decidindo o que fazer. Não tínhamos carro então teríamos que pegar táxi, horário de pico...mas decidimos e chegamos em casa umas 16:30. Tomei banho, coloquei a tens machine, que da choquinho para aliviar a dor das contrações que começaram a ficar cada vez mais frequentes, mais doloridas. Vini chamou um uber e chegamos de volta no hospital às 19h. Era troca de turno das midwifes. Estávamos na sala de espera e eu já com muita, muita dor.

Nos atenderam às 19:30. Me examinaram e eu já estava com 7 cm de dilatação. Vini falou que eu queria epidural. A midwife muito simpática falou: querido não vai dar tempo. Mas vocês não podem tentar? Podemos, mas precisamos de um anestesista e precisamos ver se ela pode tomar. O processo demora. Nisso eu com muita dor, falei: to querendo empurrar. Nos levaram para a sala de parto. O cordão umbilical estava enrolado no ombro, ouviram os batimentos do Felipe e chamaram uma obstetra que acompanhou o finalzinho do parto. Ainda bem que não resolvi ter no Oasis. Felipe nasceu às 20:50.

Pós parto

Todo o atendimento no meu pre-natal e parto foi muito bom, mas o pós parto foi muito ruim. Digo no hospital e nos primeiros dias com o Felipe em casa. No hospital não fizeram muita questão de me ensinar a fazer ele mamar no peito. Até mostraram mas sempre com a fórmula do meu lado. E na maternidade mesmo Felipe tomou fórmula. Fizeram os testes de recém nascido nele e recebemos alta no dia seguinta, sábado, às 22h.

Depois que o Felipe nasceu e foi examinado pela pediatra, ficamos no quarto por cerca de 2 horas. Tomei banho, comi um lanche oferecido pelo hospital e trocamos o Felipe. Não ficou nenhuma enfermeira ou midwife conosco no quarto. Nos transferiram para a ala de pós parto e uma das midwives falou que colocaria a gente perto da janela para termos um pouco de privacidade. Na ala de pós parto era dividida por 7 baias. Cada uma tinha uma cama, uma poltrona e um bercinho. O bebê fica com você o tempo todo. Quando cheguei, 4 baias já estavam ocupadas.

Dois dias depois de receber alta, uma health visitor vem na sua casa para saber como você esta e o bebê. Foi a pior health visitor que conheci ate agora. Falei da amamentação, mostrei como ele mamava e ela disse que o Felipe tava fazendo meu peito de chupeta. Dei fórmula na mamadeira para ele chorando enquanto ela escrevia no livro do Felipe que eu e o Vini estávamos muito emocionalmente abalados.

Como Felipe perdeu 9% do peso do parto (o aceitavel é até 10%) eu tive visita de health advisers ate que bastante na minha casa e também tinha consulta no hospital. Cinco dias depois recebemos a visita de outra, um pouco mais profissional, que fez o teste do pezinho, me perguntou da amamentação, disse para eu complementar com fórmula e o pesou. Cada vez q eu tirava a roupa do meu magrelinho para colocá-lo na balança meu coração batia tenso. Felipe tinha ate dia 25 de junho, 15 dias após o nascimento (e meu aniversário!) para atingir um determinado peso.

Dia 18, um sábado, duas super amigas vieram me visitar e me ajudaram muito, mas muito mesmo com conselhos sobre amamentação. Foram essenciais. Todo apoio, conversa e incentivo vou guardar para sempre. "Siga com força de vontade e perseverança que você ta fazendo certo. Acredite em você e não dê a fórmula". Uma semana se passou e fomos eu, minha mãe e irmã pesá-lo no hospital. Era uma health advisor bem jovem, super simpática. Mas de novo o frio na barriga ao colocá-lo na balança começava. Meu melhor presente de aniversário foi ouvir: "Felipe engordou xx gramas. Alcançou o peso. Continue como você está fazendo, pois funcionou". Quem vê fotos dele com seis meses nem imagina o que foram os primeiros meses da amamentação. Foi uma vitória, com muitas lágrimas, muita dor, muito cansaço, mas também muito apoio (Vini, família, amigas e grupos de amamentação), muita conversa e muita determinação minha.

Visitas

Aqui você não tem um médico pediatra que acompanha seu filho. Temos health advisors que vão até sua casa nos primeiros meses, o GP, que você registra após o nascimento e onde toma as vacinas, e centros de pesagem, em dias e horários específicos separados por região. Temos também muitos grupos de apoio à amamentação que normalmente são organizados por voluntárias. Lá você pode também pesar o bebê, conversar, ouvir outras mães. Para mim era como se fosse uma terapia. De graça.

Lembrar que todo o meu pré natal, parto e o pós parto foram realizados no NHS ainda me surpreende. Eu acho um serviço muito bom, não tenho do que reclamar (tirando a primeira health advisor que veio em casa). No meu GP tem a opção de ter uma consulta telefônica no mesmo dia, consultas marcadas e consultas para o mesmo dia. A grande maioria das vezes que precisei falar com o médico, eu fui atendida. O Felipe com 2 meses teve uma gripe super forte e em 10 dias levei ele no GP cinco vezes. Todas as consultas fui atendida pelo mesmo médico, atencioso, mas que chegou a anotar em um papel o número de vezes considerado normal a respiração de um bebê a pediu para eu contar antes de voltar lá.

Enfim...eu estava acostumada a ter plano de saúde no Brasil e sempre ter a minha irmã e tios médicos perto. Aqui a coisa é diferente e tudo é adaptação, principalmente com o Felipe. Mas aos poucos a gente vai entendendo como funciona e entramos no esquema do NHS.

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