Brexit
Ontem a atmosfera em Londres era otimista. Vi dezenas de pessoas na rua que, como eu, usavam o adesivo 'I'm in!' colado na roupa. O mercado financeiro estava confiante na vitória do Remain, e quando a contagem dos votos começou as 10 da noite tudo parecia encaminhado a nosso favor.
Aí eu acordei hoje.
Eu acordei hoje com a notícia de que a Inglaterra e o País de Gales, lugares que eu amo tanto, não querem mais brincar de União. A Escócia e a Irlanda do Norte tentaram nos ajudar, mas não foi o suficiente. Londres também votou para ficar, mas como a gente já sabe, Londres não reflete o restante da Inglaterra.
Processar essa informação é muito difícil, Estou trocando muitas mensagens com as amigas que moram aqui, e estamos todas arrasadas. Sinto-me enganada, traída, deslocada. Eu não apenas moro aqui, mas Londres é minha renda. Eu promovo essa cidade - e todo o Reino Unido - por que eu achava que não havia no mundo um lugar melhor, mais receptivo, mais cheio de misturas.
Desde o dia 5 de dezembro de 2008, quando cheguei, me senti em casa. Tanta gente me pergunta por que eu gosto tanto daqui, e essa sempre foi a minha resposta: eu me encontrei aqui. Infelizmente, hoje não é o que eu sinto.
Essa votação vai além das burocracias de deixar a União Européia, e mexem com o coração das pessoas que escolheram viver aqui. Até podem existir outros motivos para os britânicos terem votado Leave, mas todo mundo sabe que imigração era o pilar dessa campanha. Como me sentir bem vinda? Como ficar se mais de 50% da população prefere que eu vá?
Dispenso comentários falando que estou levando isso pro lado pessoal. Esse referendo sempre foi pessoal. Sempre foi nós contra eles. E gera algo muito pior que a desvalorização da libra: gera um momento de vitória para os extremistas de direita do mundo inteiro.
O que fazer?
Estávamos caminhando tão bem para um mundo globalizado, sem fronteiras, de oportunidades iguais. Onde a gente não precisa morar no lugar onde nasceu e onde podemos conversar com pessoas que vieram do outro lado do mundo. Mas nossos líderes falham em suas tarefas, e convertem a frustração da população em medo, gerando então o nós contra eles.
O futuro aqui é incerto. Tudo que eu investi em Londres, meu tempo, meu dinheiro, meu amor, parece não valer nada. O nó na garganta vira choro ao assistir o discurso vitorioso de um político nojento, que acusa imigrantes de extorsão no sistema de benefícios e engana os britânicos com números mentirosos.
O Reino Unido está fora. A Inglaterra está isolada. O Primeiro Ministro que usou esse referendo como massa de manobra deu um tiro no pé, renunciou. Pra ele nada muda. A Escócia deve ter novo referendo para independência (e dessa vez estou do lado deles). Apesar de na prática nada mudar nos próximos meses, nós imigrantes sabemos que muita coisa mudou.
Veja o que a
minha amiga Liliana, que mora aqui há mais tempo que eu, também tem a dizer sobre isso. E
aqui o que a Nathalia, que é casada com um inglês e está aqui como esposa (e não como europeia) tem a acrescentar.
6 comentários:
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