The burden of proof
'The burden of proof lies with the prosecution. The defendant doesn't have to prove his innocence'
Minha breve - porém intensa - incursão no mundo da corte criminal britânica chegou ao fim hoje. Como eu prestei mais de 10 dias úteis (11 no total), o que é mais do que a média, só podem me chamar de novo daqui a 10 anos. Pode parecer exagero, mas o desgaste emocional desses últimos dias foi algo que nunca experimentei antes.
Me senti muito ansiosa, muito feliz, impaciente, indecisa, estressada, triste, decidida, confusa e aliviada - nada que eu não tenha sentido antes, mas em doses cavalares e dentro desse curto espaço de tempo. Acho que a sensação final é de dever cumprido - paguei boa parte da minha cota para o andamento do mundo civilizado e me sinto recompensada.
Porém, estou contente de ter atravessado de volta o portal que me transportou pra esse mundo paralelo de 'caros colegas', evidências, termos complicados, depoimentos traumatizantes, esperas extenuantes e salas da onde você não pode sair até tomar uma decisão.
Ah, e tudo isso sem contar outra coisa crucial: a convivência obrigatória com pessoas que você nunca viu na vida, e com as quais você precisa decidir o futuro de outra pessoa. Uma ótima oportunidade para conhecer gente que pensa igual a você e divide os mesmos princípios morais, mas também de topar com idiotas que estão mais interessados em ir pra casa do que levar a sério um caso criminal, ou então que tomam uma decisão assim que colocam os olhos no réu (tambem conhecidos como racistas).
Meu pai ficará contente em saber que aprendi muito com os dois juízes que trabalharam nos dois julgamentos que participei. A gente sempre ouviu falar que todo mundo é inocente até que se prove o contrário, certo? Imagino que todo mundo conheça essa expressão. Mas eu só me dei conta da sua importância quando sentei no banco do juri pela primeira vez, e me foi explicado que o réu que ali estava não precisaria provar sua inocência - quem tem que provar algo é a acusação.
E, por mais óbvio que isso soe, toda história tem dois lados. Por isso, agora eu entendo perfeitamente que não podemos tirar conclusão alguma quando vemos algum caso no noticiário, por mais evidente que o caso pareça. TODA HISTÓRIA TEM DOIS LADOS. Se há dúvida, não há culpa. E amigos, acreditem em mim: há muita mentira, portanto há muita dúvida.
Eu nunquinha que vou esquecer os nomes e rostos das pessoas envolvidas nos casos que eu julguei. Não apenas os réus, mas tambem os familiares e amigos que assistiam da galeria, ou as testemunhas que são obrigadas a contar os detalhes mais podres de suas vidas, aqueles que a gente jamais imagina revelar em público. Nunca vai sair da minha mente o choro de alívio do primeiro réu e o abraço que ele recebeu da sua família quando declaramos 'not guilty' - quanto ao segundo réu, o caso ainda está em curso (não chegamos a um veredito unânime e nem uma maioria, portanto fomos dispensados), por isso não posso falar nada aqui.
Mas posso falar que nos últimos dias eu li transcrições de longos depoimentos a polícia, ouvi diversas vezes a gravação de uma ligação para o serviço de emergência e examinei um martelo embrulhado em um saco plástico.
Como eu falei lá em cima, estou feliz de ter voltado desse mundo paralelo. De repente a rotina do escritório, das corridas, dos afazeres domésticos e da vida social ficou muito mais atraente do que o vaivém nas salas ou muito quentes ou muito geladas da corte criminal de Londres.
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