A lenda da cereja

dezembro 23, 2006 Helô Righetto 0 Comentários

A Maior Mentira do Mundo - 11/11/2004
Na infância acredita-se em muitas coisas. No Papai Noel, no coelhinho da Páscoa e na virgindade da Angélica. Eu, além disso, também acreditava na propaganda. Ia até a padaria, comprava um Suflair, colocava em cima da mesinha da sala, e ficava sussurrando "suuuuflaaair" repetidas vezes, mas o chocolate nunca flutuava. Problema de entonação, não tenho dúvidas. A moça da televisão sabia cantar certinho, e funcionava. Entonação.
Essas coisas todas, aprende-se mais tarde, não passam de invenções para convencer as crianças a serem boazinhas o ano inteiro (eu nunca fui, mas a indulgência vinha mesmo assim), ou convencê-las a comprar o produto certo. As mentiras, grandes como elas são, chegam ao ponto de inventar um velho barbudo maníaco por dar presentes, um coelhinho com problemas proctológicos, e o Programa Espacial Brasileiro.
Porém uma certa mentira se mantem geração após geração sem sequer ser notada. Uma mentira grande demais, mesmo para um namorado da Angélica. A verdade é reveladora, leitor. Esta verdade pode ser, inclusive, perigosa. Eu mesmo temo pela minha segurança. Se algo acontecer a mim (um raio, ganhar na loteria, ter um rim falho) podem ter certeza: foi por revelar a verdade. Se você quiser se proteger disso, por favor, não leia. Vá comprar ovos de páscoa, que causam, no máximo, cáries. Melhor uma mentira inofensiva que uma perigosa. Mas a escolha é sua.
Pare agora, ou prepare-se para sofrer as conseqüências. Pois bem, a escolha foi sua. Lá vai. Você já comeu cereja? Sim, aquelas coisas que vêm sobre os bolos. Cerejas. Crianças adoram cerejas. Elas são doces, vermelhas, e cheias de calda. Todos imaginam que essa calda doce e translúcida seja feita industrialmente, claro. De certa forma, talvez o processo seja parecido com o dos pêssegos em calda. Pêssegos em calda, cerejas de bolo em calda. Certo?
Errado. Essas não são cerejas de verdade. Essas "cerejas" confeitadas são de... bem... er... como dizer? Imagine uma coisa que você não comia, absolutamente, na infância. Na verdade, nenhuma criança come, sábia que é. Descobriu?
Sim, chuchu. Chu-chu. Pegam aquela coisa verde, nojenta e cheia de água para transformar, com glicoses e aromatizantes mil, na sensual cereja. A cerejinha que coroa o sorvete é, na verdade, o chuchuzinho do sorvete. A luta pelas bolinhas vermelhas do bolo é, afinal, uma luta para ver quem come mais chuchu.
Crianças se digladiando nas festas por chuchu. Chuchu! Que louco sádico inventaria tal artimanha? Como puderam nos enganar tanto tempo? É um absurdo! A humanidade está perdida. Como confiar agora nos concursos de misse, no sorteio dos times para a Copa do Mundo, na paz entre os homens?
Mas esperem. Talvez ainda exista alguma esperança. Se der certo, é claro. Tentem comigo. Encha os pulmões e sussurre: Suuuuuuflair...

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