Everyday Sexism

junho 04, 2013 Helô Righetto 17 Comentários

Há alguns meses conheço o projeto Everyday Sexism e sempre ensaiei pra escrever sobre ele aqui. Quem me acompanha no twitter certamente já percebeu o quanto me identifiquei com o ideal do projeto - já divulguei várias vezes e inclusive ajudei na construção da versão brasileira do site (eu e a Ana fizemos a tradução).

Não sei porque esperei tanto pra falar do projeto aqui: talvez porque vejo o blog como um canto mais descontraído, talvez por receio de não conseguir expressar sua importância. Mas hoje, ao ver o vídeo (que foi lançado durante o show "Chime for Change" aqui em Londres, no fim de semana passado), sabia que tinha chegado a hora!

Então, esse é um post um pouco diferente do que vocês estão acostumados a ver aqui.

(eu sei que sexismo atinge homens também, mas aqui vou falar do problema na minha visão de mulher, até porque quem acompanha o projeto sabe que a esmagadora maioria dos casos relatados vem de mulheres)

O vídeo (em inglês):

EVERYDAYSEXISM (EXTENDED VERSION) from AMOS PICTURES on Vimeo.

A criadora do projeto Everyday Sexism é a Laura Bates, que decidiu montar um site onde as mulheres pudessem dividir experiências sexistas - ela mesma começou o site depois de ter sido assediada na rua. Ela espalhou o site entre amigas, divulgou em redes sociais e assim milhares e milhares de mulheres mandaram testemunhos - em forma de email, relato diretamente no site e tweets - contando suas histórias. Desde relatos de sexismo mais cotidiano, aquele que as vezes a gente nem acha que é problemático (ser chamada de gostosa na rua, ou o mecânico/técnico que veio consertar a geladeira que se recusa a falar com a mulher da casa, entre tantas outras coisas), até episódios que envolvem contato físico, como homens que se encostam em mulheres no metrô - ou pior, masturbam-se em frente delas.

Eu deixei vários relatos no site. Contei da minha lembrança dos almoços em família, e de como depois de comer as mulheres iam lavar a louça e os homens iam dormir. Contei também de quando estava em um show com uma amiga e um cara ficou insistindo, tentando me beijar, me agarrar. Quando empurrei e falei não, ouvi de volta "então vai se fuder". Até um evento bem recente - atravessei a rua na faixa de pedestres e assim que cheguei do outro lado, ouvi do motorista que estava esperando pra acelerar: "bitch".  Contei da cara de espanto que as pessoas fazem quando conto que meu marido é quem faz a janta todos os dias. "Como você é sortuda!", é o que sempre ouço, como se meu marido estivesse me fazendo um favor, já que cozinhar deveria ser a minha função. Tenho tantas outras histórias, não apenas minhas mas também de amigas.

Sexismo existe em todo lugar, infelizmente. Até as mulheres são sexistas. Li esses dias em um blog desses "de moda" um texto onde a blogueira diz que é preciso estar sempre arrumada pro marido. E quantas mulheres não acham que trabalho de casa é de mulher? Que mulher provoca e deveria se vestir e agir de forma "adequada"?

O pior é que a gente fecha os olhos pro sexismo: se você reclama pra alguém que foi assediada na rua, é bem possível ouvir como resposta algo do tipo "ah mas é que você tá com uma roupa muito justa hoje" ou então "ai, relaxa, leva como elogio" e "mas que mau humor! É só uma piada". E isso é tão frustrante! Tão frustrante que no fim ficamos caladas - pra que reclamar de algo que jamais vai deixar de acontecer, certo?

Errado! Pra mim, o Everyday Sexism vai deixar sua marca na história. Se hoje em dia é absurdo pensarmos que já teve um tempo onde mulheres não podiam votar, penso que chegará um dia que as pessoas vão olhar para trás e comentar o absurdo do sexismo.

 Vejam o vídeo, até o final. Os relatos são tristes, e fazem tudo ficar muito mais real.

A boa notícia é que o Everyday Sexism ganhou proporções muito maiores do que Laura jamais poderia imaginar quando fez o site. E para continuar crescendo, precisa de fundos. É possível doar qualquer valor usando esse site aqui: é muito simples e rápido (a doação é em dólares). Eu, é claro, já fiz a minha doação. Aproveite que você tá aqui lendo e já vai lá, não deixe pra depois!

Site Everyday Sexism: www.everydaysexism.com
Twitter: twitter.com/everydaysexism
Para fazer sua doação: www.catapult.org/project/fighting-everyday-sexism

17 comentários:

  1. Demais, Helo. Parabéns pelo post e pela iniciativa de traduzir para o português. Vamos divulgar! Pois um "gostosa" no meio da rua não pode ser tratado como algo normal.
    Beijo!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. obrifada Re!! quanto mais divulgacao, melhor! vejo muitos homens no twitter falando q nao tinham ideia desse tipo de coisa - ou seja, está dando resultado!!!

      Excluir
  2. Muito legal você dividir isso com a gente Helo, não conhecia esse movimento e só posso dizer que apoio totalmente.
    No meu primeiro estágio, tive uma péssima experiência. Era assistente de um cara e a empresa era pequena e tinha vários trabalhadores de fábrica que iam lá no setor de RH falar com a gente. Acredita que um dia chegou um senhor do nada, e o idiota do meu "chefe" disse que esse senhor me achava muito gostosa! Sim, essas foram as palavras...
    Eu lembro que fiquei sem ação, acho que não disse uma palavra e continuei trabalhando como se não tivesse ouvido absolutamente nada. Nunca contei nada pra ninguém e nunca mais voltei para o estágio depois desse episódio. Acabei dando uma desculpa esfarrapada do tipo, "não está dando para levar estudo e trabalho, por isso estou saindo" - tipo, a filha de papai aqui não dá conta de trabalhar e estudar, bem essa a mensagem, sabe? Minha culpa. Como tinha conseguido o estagio, através de um amigo da família, fiquei morrendo de vergonha de contar o que realmente aconteceu.
    Hoje penso que isso é/foi um absurdo, mas como você disse, é bem capaz que as pessoas me perguntassem "mas será que você não foi com uma roupa muito sexy?", ou "mas só tem peão lá, você queria ouvir o que?", ou ainda "não acredito que você foi trabalhar naquela empresa que só tem trabalhadores braçais, lá não é lugar para menina da sua classe!"... enfim, poderia ficar aqui até amanhã arranjando desculpas...
    Essa foi a experiência mais frustante de sexismo que aconteceu comigo...
    bjos

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Mi, fico contente que vc dividiu isso aqui. Temos que falar mesmo - a gente fica com vergonha e deixa pra lá. Nao podemos mais!! Bora botar a boca no mundo!!! bj

      Excluir
  3. Trabalhei mtos anos a bordo de navios de cruzeiro e o ambiente era sempre esse, as promoções, os favoritismos, tudo era na base do sexo. Nunca consegui me adequar ou achar aquilo normal.
    Uma colega se relacionava com nosso chefe, ele chegou a dar dinheiro a ela para que ela cobrisse o seu caixa e quando ela tentou terminar o relacionamento ele a ameaçou de tudo que voce pode imaginar, inclusive de roubar o dinheiro do cofre dele. Hoje ela esta promovida.........Deus sabe o que deve ter custado.
    Era muito, muito frustrante....

    ResponderExcluir
  4. Helô, eu acompanho o projeto através de você no twitter e não comento muito porque você sabe que sou mais caladinha, né? Mas vou aproveitar que aqui cabem mais caracteres. ;)

    Parece que a maioria das pessoas, mesmo as mulheres, não percebem esse problema. Quase todas as vezes que reclamei sobre homens mexerem comigo na rua, as mulheres que me ouviram diziam que eu reclamava à toa, que isso é bom para a auto-estima. Oi???? Eu acho uma tremenda falta de respeito e me sinto super insultada! Por causa disso, deixei de correr em algumas ruas de Uberlândia, onde isso acontecia frequentemente, e fico super constrangida quando saio na rua com roupa de ginástica, por exemplo. Um absurdo a gente se sentir assim por causa dos outros, né?

    Mas, ainda em Uberlândia, tive um problema ainda maior. Eu voltava a pé do trabalho e um dia, numa rua movimentada, um carro parou ao meu lado me oferecendo carona. Na hora eu fiquei até sem reação, nem respondi e continuei andando, mas fiz questão de olhar a placa do carro. Ainda bem que tenho memória muito boa para números, pois até hoje me lembro dela. Uns três meses depois, voltando para casa novamente, mas em uma rua mais tranquila, eu ia atravessar a rua e havia um carro parado. Quando olhei de relance dentro do carro, vi que o cara estava se masturbando e olhando para mim! E, quando olhei a placa, era o mesmo carro! Isso a duas quadras da minha casa. Eu entrei em pânico! Fiquei alguns dias sem ter nem coragem de sair de casa sozinha. Cheguei a ir à delegacia de mulher, mas praticamente me disseram que nada tinha acontecido, então não havia do que dar queixa, sabe? Mesmo assim fui à polícia comum e fiz um BO. Quando me mudei de lá fiquei até feliz pensando que tinha me livrado de vez desse tarado, sabe? Mas o pior de tudo é pensar que ele age assim e fica impune, que um ato desses pode ser denunciado, como eu fiz, mas que nada acontecerá. É revoltante!

    Bom, essa novela toda para deixar aqui meu apoio e reforçar que o Everyday Sexism é sim muito importante! Parabéns pela iniciativa, Helô!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Cá, que história... que horrível! mas obrigada por compartilhar aqui. esse projeto faz com q a gente se sinta mais forte, unidas. fica mais fácil encarar o absurdo do sexismo e brigar! olha, achei demais vc ter ido fazer BO, parabens viu??? bj

      Excluir
  5. Helô, que legal, adorei o post! Esse projeto é muito importante mesmo!
    Mas verdade seja dita: você fez a tradução do site, eu só dei uma revisadinha de nada! :-)

    ResponderExcluir
  6. Trabalho importante. Todos se preocupam com movimentos em prol das minorias, e este é um grande preconceito que ñ é combatido, por um motivo muito forte e difícil de derrubar: cultura de comportamento. Está enraizado e ainda hoje vemos crianças sendo educadas para assim agirem. Parabéns.

    ResponderExcluir
  7. Helo,
    li seu texto ontem e deixei pra comentar assim que tivesse algum ~causo~ fresquinho pra contar.

    Nem 24 horas se passaram. E. Adivinha?
    Numa rodinha de reclamacoes no meu trabalho novo sobre o que era ruim no escritorio de cada um, disse que no meu caso era a proximidade com o banheiro. Masculino, Feminino, pouco importa, mas assim que esclareci que a primeira opcao era a verdadeira os e as coleguinhas disseram: 'Aahhh! Realmente, pessimo. Ainda por cima que eles devem estar indo com muito mais frequencia desde que você chegou pra dar uma olhadinha pra sua sala!'
    Nao achei a minima graca. E fiquei ali na mesa com cara de babaca.

    'Besteirinhas' como essa sao frequentes no dia a dia de muita mulheres (poderia passar o dia aqui contando historia) e voce tem razao em suportar esta causa pois realmente: algum dia isso ha de mudar!!!

    Beijos, copyne.

    ResponderExcluir
  8. Helô, esse projeto é lindo! Sigo no twitter por sua causa :)
    Já passei por experiências de sexismo tb... quem nunca levou um "gostosa" de pedreiros na rua aqui no Brasil? Mas o que mais me incomodou, foi em Londres... uma das únicas vezes q peguei metrô na hora do rush, pra ir pro trabalho, tava lotado e um cara colocou a mão na minha cintura! Até eu me tocar que era de propósito, levou um tempo e daí eu tirei a mão dele e olhei com cara bem feia, mas não falei nada... devia ter feito um escândalo!

    Beijo!!

    ResponderExcluir
  9. Anônimo9:28 AM

    Muito bom, eu recebo muito sexismo por lado da minha sogra, que acha o absurdo do absurdo meu marido passar as proprias camisas!! Qdo as criancas eram pequenas, eu tinha uma faxineira e por 1 ano eu manti esse 'segredo' dela pode?
    Qto a esse tal blog, tbem li, qta inseguranca ela pensar assim! Do jeito que ela fala, se uma inglesa le-se, pensaria que ela eh mae solteira que faz tudo e na verdade ela tem um batalhao por traz. Deixei um comentario onde disse que se ela pensa que tem que sempre estar bonita para o marido, do outro lado tbem vale, nao? Ele tem que estar enxuto e bonito tbem! (eu sei que o marido dela e fofinho) - logico que ela nao aprovou! Patricia

    ResponderExcluir
  10. Muito legal a iniciativa, Helô. De pouquinho em pouquinho a gente chega lá. Espero que a próxima geração não tenha que passar por tudo isso, assim como a nossa já teve grande vantagens em relação a das nossas mães e avós.

    Histórias de sexismo eu tenho aos milhares. Uma que eu nunca contei pra ninguém foi na época que eu trabalhava em um hotel chique em Ipanema e tive que dormir lá, assim como todos os funcionários, por causa de um evento. Dividi um quarto com outra menina e acredita que meia hora depois que a gente foi pro quarto, nosso chefe (que era uns 20 anos mais velho que a gente) ligou perguntando se nós duas não queríamos ir fazer uma visitinha pra ele? Não fiquei puta nem nada, na hora achei muito engraçado como ele era paspalho! Morri de rir com minha amiga e ficou por isso mesmo. Nem pensei em falar nada, até pq eu tinha dado uns pega no filho do dono do hotel, que era bem mais novo que eu. Na época pra mim aquilo tudo era muito divertido. Mas hoje vejo como o chefe foi um babaca ligando pra gente. Lembro até da voz dele, da entonação, da insistência. Eca!

    Minha política agora é de reagir sempre. Falou gracinha na rua? Vai ouvir de volta. Falou coisa sexista no Facebook? Vai ter resposta minha. Abriu a boca pra falar merda na festinha de amigos? Vai ouvir a amiga chata rebatendo. E assim a gente vai vivendo.

    ResponderExcluir
  11. Demais esse post. Demais esse projeto. Obrigada por dividir!
    E quanto às blogueiras de moda... putz, não dá, já li isso e desde então desisti delas... é muita ignorância.
    Beijos!

    ResponderExcluir
  12. Dulce3:17 AM

    muito bom,Helo Righetto! e muito triste estas coisas ainda acontecerem nos dias de hoje! eu sempre reagi contra essas palhacadas! Nem que fossem os pedreiros feitos malucos assobiar,de seguida viam um "dedo" meu a levantar haha!

    ResponderExcluir

Deixe seu comentário! E caso faça uma pergunta, volte para ver a resposta