O zig zag da montanha
O avanço ao cume do Kilimanjaro é algo que registramos pouco em fotos e vídeos, mas é a parte da viagem que está gravada na memória com mais força. Uma das imagens mais fortes, que imediatamente me vem a cabeça quando começo a falar dessa noite/dia de escalada, é um zig zag de pontinhos iluminados montanha acima.
Eu explico: como saímos do acampamento base a meia noite, é preciso usar a lanterna de cabeça no percurso até a luz do dia dar as caras. A gente não vê nada, apenas aquele foco de luz saindo da nossa testa e iluminando os passos da pessoa que está na nossa frente. Ficamos de cabeça baixa o tempo todo, concentrados, em silêncio, apenas ouvindo nossa própria respiração - que custa a sair - e também a dos companheiros. Falamos apenas o necessário (como: preciso parar um pouco), com medo de que qualquer interrupção atrapalhe a caminhada que vai a passos muito lentos.
Em um desses momentos, meu pescoço começou a doer, afinal a gente fica olhando pra baixo. Resolvi dar uma esticada e olhei pra cima...
Lá estava, o zig zag de pontinhos iluminados. Eram pessoas que estavam mais avançadas do que a gente, bem mais pra cima, e suas lanternas demarcavam o desenho da trilha. Naquele momento eu não sabia se ria ou chorava: era algo bonito de se ver, mas me fazia pensar que eu tinha ainda aquilo tudo pra subir. E era uma parede, e não uma ladeira. Sabe quando você está parada no engarrafamento e só consegue ver a luz vermelha dos carros parados até perder de vista?
Nesse caso, a impressão que eu tinha é que a encosta do Kilimanjaro era totalmente vertical. Bateu um desespero, mas eu não conseguia parar de olhar. Era muito bonito. E havia um ponto onde as luzinhas das lanternas se misturavam as estrelas. Ali, com pouco oxigênio, meio desidratada, muito cansada e com muito frio, a gente dá umas alucinadas. Fixava meu olhar em um pontinho e não sabia se era uma estrela ou uma pessoa já quase chegando na cratera do Kilimanjaro, mais precisamente no Gilman's Point, a primeira parada do topo.
O consolo é que haviam pontinhos abaixo de nós também. Eu me pergunto se eles olhavam pra cima e sentiam a mesma coisa que eu senti naquele momento.
Já na cratera do Kili, chegando no Uhuru Peak, o ponto mais alto. Lá na frente está o Monte Mawenzi. |
Que lindo relato! Grata por partilhar essa experiência, deve ter sido tão dura quanto prazerosa.
ResponderExcluirSou só orgulho!
ResponderExcluirQue lugar lindo, adorei seu blog! Att, www.lojavidanatural.com.br
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