Sortuda

março 08, 2016 Helô Righetto 4 Comentários


Há anos que eu penso em escrever esse post, e acho que não tem data mais apropriada pra eu finalmente falar sobre isso do que hoje, o Dia Internacional da Mulher.

Minha linha de pensamento mudou muito nos últimos anos, e ainda mais intensamente nos últimos meses, depois que comecei o Conexão Feminista. Antes, eu preferia não rebater comentários machistas ou fingia que não via só pra me poupar do cansaço mental de uma possível discussão. Mas eu finalmente me dei conta de que se eu não falar hoje, vou prejudicar quem estará nesse mundo daqui 100, 200 anos. Minha voz pode fazer diferença, e se uma pessoa parar pra pensar e analisar uma situação e se dar conta do machismo intrínseco no nosso dia a dia, minha tarefa está completa.

Eu tenho plena consciência dos meu privilégio como mulher branca, cisgênero, heterossexual e classe média. E com tudo isso ao meu favor, eu ainda convivo com sexismo, e tenho centenas de 'causos' para contar.

Uma das situações mais comuns são os comentários que recebo em relação ao fato do Martin cozinhar. A reação de surpresa no rosto das pessoas quando descobrem que o meu marido cozinha ('todos os dias?') é a personificação do sexismo cotidiano. 'Como você é sortuda!' é o que eu escuto sempre. Já escutei isso de amigas, familiares e gente que mal conheço.

Eu sei que na maior parte das vezes a intenção é das melhores. O Martin cozinha bem, e as pessoas querem elogiar. Mas é aí que mora o problema. Vocês viram o machismo? Ele tá escondido aí, no momento que meu marido é elogiado por fazer uma tarefa doméstica, por fazer parte do andamento do nosso lar e participar ativamente na rotina da nossa pequena família.

Essa é uma gota no oceano machista que a gente vive. Felizmente, e por causa dos meus privilégios, eu hoje em dia tenho VOZ e posso falar sobre isso. Posso botar a boca no mundo quando testemunho uma situação de agressão ou assédio. Mas muitas mulheres não podem, e no Dia Internacional da Mulher precisamos pensar em como emprestar nossa voz para elas.

Mulheres: a luta é agora!

4 comentários:

  1. Fui criada com um quase mantra de que "homem não faz os serviços domésticos", sempre achei muito injusto isso, a julgar que eles tinham saúde e disposição tanto quanto eu. Anos depois me casei com um cara que faz absolutamente TUDO dentro de casa. Foi duro para minha mãe se acostumar com ele na cozinha, por exemplo.

    Acredito que a gente ouve muita coisa parecida por aí, Helô. Mas, se a internet veio para dar a voz a muita gente babaca, por outro lado ela veio pra nos mostrar que, mesmo distante, estamos juntas!

    :*

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  2. Seu texto me levou a pensar num outro tema: como se relacionar com nossos parentes mais velhos e machistas...!?

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  3. Luciana Rodrigues8:51 AM

    Helô, aqui em casa os comentários sobre eu ser sortuda é porque meu marido também assume "coisas de mulher": levar e buscar as filhas na escola e nas atividades extra-curriculares. Ah! E porque eu viajo sozinha e ele fica com as filhas que... são dele também! Sinceramente, os comentários sempre vêm de outras mulheres. E eu pergunto o que lhes impede de fazer o mesmo e se os companheiros delas são pais ou simples doadores de esperma! Temos que virar a mesa. Mas reconheço que no caso do meu marido e do meu cunhado, houve uma mãe que fez um trabalho sensacional. Sorte pra mim é ganhar na mega-sena, somos frutos das nossas escolhas.

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  4. Oi Helô, há muito tempo havia parado de ler blogs, mas me lembrei do seu e aqui estou me atualizando. Seu conteúdo continua excelente.
    Minha família carioca tem vergonha de mim porque "eu deixo" meu marido ser o encarregado a lavar as roupas, incluindo peças íntimas. Minha mãe chegou ao ponto de pedir desculpas ao meu marido dizendo que não me criou assim. Meu marido, que é canadense, muitas vezes precisa de explicação para entender as atitudes machistas da minha família (inteira).
    Abraçoes e sucesso nesta sua nova fase de vida freelancer.
    Beijos

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