Um email de Pemba

novembro 05, 2012 Helô Righetto 11 Comentários

Uma grande amiga minha está passando uma temporada em Pemba (Moçambique) a trabalho, que - bem basicamente - consiste em desenvolver produtos artesanais com comunidades carentes. Essa minha amiga é totalmente o oposto de mim no que diz respeito a comunicação via email: ela demoooooora pra responder e deixa os amigos preocupados, ávidos por notícias.

Mas quando ela manda o email tão esperado... é de arrepiar! Gostei tanto do que vi na minha caixa de entrada hoje que pedi permissão pra ela para poder colocar aqui. Colocando em contexto: ela está fazendo uma viagem (não sei exatamente por onde - ela esqueceu de me falar esse detalhe!) e escreveu esse email no impulso, deu vontade e ela me mandou.

Da pra sentir a emoção no texto, não dá não (a parte destacada é a que mais me chamou atenção)?


"Você deve imaginar que esta experiência africana não seja nada fácil. Um paradoxo, tem momentos de plena realização, emoção, comoção. 

Estou na estrada há quase 10 dias. Nem queira imaginar pelos lugares que passei. Aldeias e lugares sem estrutura alguma. O que vivi nesses dias vou levar comigo pro resto da vida. Além de toda a experiência, desenvolvi produtos com os grupos e essa troca me faz muito bem. Isso me preenche muito! Vou te mandar fotos e alguns vídeos que fiz pra você ter uma dimensão do que estou falando. Sabe o que é você chegar em um lugar e uma criança negra chorar de medo porque nunca tinha visto um branco? Você esperar pescarem o peixe pra você comer? Tomar banho de caneca e não ter descarga? Você chamar atenção por onde passa e as pessoas falando idiomas locais dizendo 'olha a branca'?

Que bom que você me pegou de jeito pra escrever porque assim eu consigo registrar o que passei esses dias. A maioria aqui é muçulmana. Estou aprendendo um pouco sobre a cultura deles com a mulher que viajou comigo. Aqui não existe casal, mãos dadas, beijinhos. Perguntei então pra ela se as pessoas se apaixonavam, se sabiam o que é o amor. Ela disse que isso era coisa de branco. Outra coisa que me espantei foi quando ela falou que filho se cria sozinho, basta ter. Eles comem se tem comida e dormem, não podem brincar muito porque senão ficam com fome logo.

Ah, teve um lugar que estava com um monte de crianças e caiu um galho com mangas. A criançada saiu correndo gritando, umas cinquenta! Fiquei assustada, não sabia o que tinha acontecido. É uma festa quando caem mangas dos galhos! Menina, e as crianças de uns cinco anos que andam carregando seus irmãos nas capulanas, parecem mini adultos! Ah, as pessoas que estao viajando comigo comem com as mãos!"

Tomei a liberdade de pegar 2 fotos que ela publicou no facebook pra ilustrar o post - obrigada Thatá! Vou aguardar mais e mais emails como esse.... comecei a semana muito bem!



11 comentários:

  1. Uau, que lugar! E que diferenças gritantes, é pra pensar muito...

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  2. Gente, isso eh... mar. Que lindo! Sua amiga deveria escrever um blog-diario contando mais da experiencia.
    Comer com as maos... meu sonho de vida no mundinho branco-ocidental. Como gosto de comer com as maos e como gostaria que todo mundo o fizesse. Coisa de indio tambem, minhas raizes. Pena que as pessoas te olham torto. Que bom que a gente se acostuma aos "bons costumes do garfo e faca". Olha, a unica coisa que me choca e me deixa triste nesse relato eh a falta de comida. O resto eh cultural e consigo aceitar e respeitar diferencas culturais (de novo lembrando dos indios: nao tem banheiro no meio Amazonia). Agora falta de comida... Acho que todo mundo deveria passar por uma experiencia dessa para colocar a vida em perspectiva.

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  3. Gostei muito. Quero saber mais. Bj

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  4. Giovana5:44 PM

    Aaaaaah..eu quero saber mais.
    Muito mais.

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  5. Anônimo8:12 PM

    Nossa, que sonho... Adoraia fazer uma viagem como essa. Se vi enormes diferenças de vida no norte do Brasil, imagina em lugares assim... e que fotos lindas! Amei!
    Beijos, sister

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  6. Sem palavras! A experiência da sua amiga é incrível.

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  7. Que emocionante o relato. Reclamamos de tudo, sei que isso nos faz evoluir, mas qdo me deparo com histórias como essas veje que poderiamos aproveitar mais e com maior prazer o que temos. Parabéns, repasse a ela a admiração pelo relato e pelas imagens, que são belissimas. Abraços,
    Paula

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  8. Anônimo2:38 PM

    Caramba, que interessante. Olha que eu nem sequer sabia que havia partes de Mocambique onde a maioria da populacao era muculmana (ignorancia minha).
    A tua amiga devia criar um blog a relatar as experiencias dela em Africa...

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  9. Helô, amei o relato. Queria um dia fazer uma missão assim, indo conhecer esses lugares (só que no meu caso, seria só pra aprender mesmo, :) ) bjs

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