Brexit

junho 24, 2016 Helô Righetto 22 Comentários


Ontem a atmosfera em Londres era otimista. Vi dezenas de pessoas na rua que, como eu, usavam o adesivo 'I'm in!' colado na roupa. O mercado financeiro estava confiante na vitória do Remain, e quando a contagem dos votos começou as 10 da noite tudo parecia encaminhado a nosso favor.

Aí eu acordei hoje.



Eu acordei hoje com a notícia de que a Inglaterra e o País de Gales, lugares que eu amo tanto, não querem mais brincar de União. A Escócia e a Irlanda do Norte tentaram nos ajudar, mas não foi o suficiente. Londres também votou para ficar, mas como a gente já sabe, Londres não reflete o restante da Inglaterra.

Processar essa informação é muito difícil, Estou trocando muitas mensagens com as amigas que moram aqui, e estamos todas arrasadas. Sinto-me enganada, traída, deslocada. Eu não apenas moro aqui, mas Londres é minha renda. Eu promovo essa cidade - e todo o Reino Unido - por que eu achava que não havia no mundo um lugar melhor, mais receptivo, mais cheio de misturas.

Desde o dia 5 de dezembro de 2008, quando cheguei, me senti em casa. Tanta gente me pergunta por que eu gosto tanto daqui, e essa sempre foi a minha resposta: eu me encontrei aqui. Infelizmente, hoje não é o que eu sinto.

Essa votação vai além das burocracias de deixar a União Européia, e mexem com o coração das pessoas que escolheram viver aqui. Até podem existir outros motivos para os britânicos terem votado Leave, mas todo mundo sabe que imigração era o pilar dessa campanha. Como me sentir bem vinda? Como ficar se mais de 50% da população prefere que eu vá?



Dispenso comentários falando que estou levando isso pro lado pessoal. Esse referendo sempre foi pessoal. Sempre foi nós contra eles. E gera algo muito pior que a desvalorização da libra: gera um momento de vitória para os extremistas de direita do mundo inteiro.

O que fazer?

Estávamos caminhando tão bem para um mundo globalizado, sem fronteiras, de oportunidades iguais. Onde a gente não precisa morar no lugar onde nasceu e onde podemos conversar com pessoas que vieram do outro lado do mundo. Mas nossos líderes falham em suas tarefas, e convertem a frustração da população em medo, gerando então o nós contra eles.

O futuro aqui é incerto. Tudo que eu investi em Londres, meu tempo, meu dinheiro, meu amor, parece não valer nada. O nó na garganta vira choro ao assistir o discurso vitorioso de um político nojento, que acusa imigrantes de extorsão no sistema de benefícios e engana os britânicos com números mentirosos.

O Reino Unido está fora. A Inglaterra está isolada. O Primeiro Ministro que usou esse referendo como massa de manobra deu um tiro no pé, renunciou. Pra ele nada muda. A Escócia deve ter novo referendo para independência (e dessa vez estou do lado deles). Apesar de na prática nada mudar nos próximos meses, nós imigrantes sabemos que muita coisa mudou.

Veja o que a minha amiga Liliana, que mora aqui há mais tempo que eu, também tem a dizer sobre isso. E aqui o que a Nathalia, que é casada com um inglês e está aqui como esposa (e não como europeia) tem a acrescentar.




22 comentários:

  1. Anônimo11:07 AM

    'Como me sentir bem vinda? Como ficar se mais de 50% da população prefere que eu vá?'

    Me pareceu um pouco egocentrico da sua parte.

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  2. Compartilho do seu sentimento, Helô. Pior que aqui na França também a extrema esquerda comemorar, embora por motivos diferentes.. Tempos que insegurança que vêm pra ficar, infelizmente. Um beijão e sinta-se abraçada

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  3. Helo, o que posso te dizer? Sinto muito, imagino sua angústia. Fiquei surpresa com o resultado, não esperava mesmo. Bj, fique bem.

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  4. Anônimo2:33 PM

    tbem estou sem chao - escolhi por nao ter a cidadania britanica pois apenas tendo o Italiano sempre foi perfeito para mim, e agora? o pior do leave na minha opniao sao os lideres politicos desse lado, tudo fascista! patricia

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  5. Tem um nó na minha garganta, Helozitcha. Saímos com uns amigos ontem e eu não consegui acompanhar a apuração. O João me acordou hoje com essa notícia terrível. Eu não consegui não chorar. Por mim, por vocês, pelo mundo!
    É muito triste. Eu não sei nem o que falar...
    Força aí. Continue fazendo seu trabalho - que está cada dia mais incrível - e não deixe seu amor por essa terra ser abalado por essa decisão lastimável.
    Beijo grande!
    Nah

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  6. Toda a minha solidariedade,Helô. É muito triste assistir a direita ganhando tanto espaço no mundo, Brasil incluído.

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  7. Lamento demais. Um retrocesso. Mas chamar de retrocesso é pouco. É um fomento, uma incitação ao ódio entre pessoas iguais, que apenas nasceram em lugares diferentes. Medo do futuro. Bj carinhoso.

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  8. É assustador retroceder assim. É a cultura do ódio ao outro por nascer em outro lugar aumentando, sendo fomentada. Ai, que tristeza!!! Bj carinhoso, Lu.

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  9. Lucila4:13 PM

    Liguei a TV hoje cedo e senti o mesmo nó na garganta, Helô. A saída é uma bofetada nos imigrantes do mundo todo: deixa bem claro que nem sempre somos bem-vindos.
    No meu ver, UK era uma amostra do que o mundo poderia ser um dia, um exemplo de tolerância e integração... Não mais.

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  10. Oi Helo,
    Obrigada por por em palavras o que a minha tristeza não consegue expressar. Assisti a apuração até o final e acordei hoje querendo que tivesse sido um pesadelo. Infelizmente, não foi. Conto com mecanismos políticos que possam invalidar o plebiscito, mas por agora, fico com o gosto amargo da constatação de que a sociedade está retrocedendo mesmo.
    beijo.

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  11. Anônimo5:04 PM

    Oi Helo, sou frequentadora assídua aqui mas acho que nunca comentei. Tô besta com o resultado. Como neta de imigrantes no Brasil, entendo que é absurdo ir contra a pluralidade cultural. Estava lendo o Twitter da J.K.Rowling, é o que consola no momento.

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  12. Eu sempre leio mas nunca comento, mas esse teu texto de hj me deixou mto triste, pq como tu disse e a Ana ai em cima falou, a direita ta ganhando tanto espaço, estamos retrocedendo em todos lugares do mundo, assustador isso!

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  13. Helô, triste demais. Imagino a tua sensação de não mais sentir-se em casa aí na Inglaterra. E eu que sempre disse que percebia uma diferença na receptividade entre o londrino e o fiorentino justamente por esse motivo. Aí , no meio de tanta gente, tantas culturas, tantas diferenças, eu sentia que fazia parte disso de uma forma tão gostosa, natural... Passei mais de 1 ano e Londres me acolheu como se fosse a "minha" cidade. E ela fazia isso como poucas no mundo... Me solidarizo com vc. Beijo com carinho, Denya

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  14. Também achei lamentável o resultado e fico bem triste em ver que foi o primeiro passo para o desmantelamento de uma Europa unida.

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  15. Helo,
    Passei a manha tentando entender e digerir tudo isso. Me deu uma angustia pq o UK tem uma influencia muito grande no mundo e esta mandando uma mensagem muito ruim para o resto do mundo e nao so na Europa. Como vc disse no snap foi a vitoria dos racistas, xenofobos, misoginos e preconceituosos em geral. Trump e cia ja estao usando isso como fomento para as eleicoes americanas. Acho que NY tb eh uma bolha e hoje como vivo em Queens tenho muito contato com imigrantes. Hoje de manha no metro estava lendo e ao meu lado uma moca lendo em arabe e um rapaz lendo um jornal em chines. E eu fiquei feliz. De poder viver com essa diversidade. Com essas pessoas que me fazem ser uma pessoa mais tolerante. Mas me deu medo de ter o Trump como presidente e eu comecar a me sentir como voce. Que nao sou mais bem vinda no pais que eu escolhi para viver e o pais que meu filho nasceu. Forca e espero que as coisas fiquem bem para todos voces. Beijos. Tania

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  16. Estou com você, Helo!
    Sensação de estar andando para trás

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  17. Depois de toda perplexidade com o Golpe aqui no Brasil , temos agora essa situação que não acreditávamos fosse se concretizar. Difícil traduzir os sentimentos , mas e como se cada um tivesse um contrato e de uma hora pra outra ele foi quebrado.

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  18. What can I say? As someone British who has just returned to live in London after 14 years in Brazil running HiddenPousadasBrazil.com I am totally shocked and saddened at what has just happened and share the sentiments of all of you who have posted here.The majority of all educated and travelled Britons would say the same as me. We have definitely taken a step backwards as a nation, but please don't feel unwanted or any less loved here in the UK. If you look at all the main places Brazilians are living- like London and nearly all the university cities, we all voted remain and love the multicultural world we live in which is so enriched by sharing with other nationalities..

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  19. É isso, helo. Não tem como não levar pro lado pessoal. Se engana quem pensa que o resultado dessa votação foi algo mais além de pura xenofobia. To murcha.

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  20. Anônimo10:14 AM

    É realmente muito triste...moro no País de Gales (Cardiff), como cidadao italiano e mesmo Cardiff tendo votado REMAIN, nao me sinto mais bem-vindo lá..e o engracado é que estou na Itália desde meados de junho e só volto no fim de julho...nao sei como me sentirei ao pisar lá de novo depois desse voto. Ainda nao escrevi o que penso como pessoa no meu blog, ainda estou trabalhando os fatos...mas em breve vou ter que desabafar lá tb.

    Beijo e ótimo blog!

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  21. É, Helo, o leave foi baseado em xenofobia pura. É engraçado tentar entender a mentalidade de quem reclama que os imigrantes são o cerne de todos os problemas e que expulsá-los (ou reduzir drasticamente o influxo) fará tanta diferença. Pode até terminar com menos usuários do sistema de bem estar social como um todo, mas o potencial dano econômico ao reino Unido vai reduzir a capacidade de investimento do governo, o que vai manter ou piorar a qualidade dos atendimentos.

    O marido da minha prima é de Belfast, e hoje moram no Brasil. O pai dele votou leave, e posta diariamente no Facebook abobrinhas xenófobas. Aí eu penso: o cara tem uma nora imigrante (ela morou lá com nacionalidade italiana), filho imigrante (moram hoje no Brasil), e acha que acabar com a imigração é a solução para tudo? Enfim, me parece que tem pouca racionalidade nessa decisão, e simplesmente um medo da imigração, uma desconfiança nas instituições existentes. É um voto do tipo "está uma merda para mim hoje, então vamos mudar, nem que seja para piorar a situação".

    Uma pena mesmo. Posso imaginar como você se sente.

    Beijos
    Ana

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